Formar cidadãos críticos, qualificar profissionais, produzir conhecimento científico e promover ações extensionistas são apenas algumas das funções centrais das universidades públicas. No entanto, para o professor Roberto Leher, um dos papéis mais originais e fundamentais dessas instituições é a capacidade de projetar cenários de futuro. Essa foi uma das reflexões que ele compartilhou durante a palestra de abertura do Simpósio de Graduação (SimGrad) da Universidade Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), realizada no dia 6 de maio, no auditório da Biblioteca Central do Campus Cruz das Almas.
Presente e futuro nas universidades
O evento reuniu estudantes, docentes e representantes da comunidade externa para discutir os rumos do ensino superior no Brasil. Ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Leher trouxe para a sua apresentação o conceito de "presentismo", apontando que as universidades não podem se limitar a responder apenas às urgências do momento presente.
“Só as universidades públicas podem produzir conhecimento capaz de projetar cenários de futuro que são condições necessárias para que possamos construir um outro futuro que nos afaste de uma condição muito tensa no mundo que é um crescimento acelerado da barbárie”, afirmou Leher.
Desafios atuais
De acordo com o professor, as universidades estão enfrentando desafios sem precedentes históricos para a formação humana, que dificultam o olhar para o futuro. “Estamos presos no presentismo por circunstâncias difíceis. É óbvio que as universidades estão fazendo perguntas sobre o hoje — o empenho chegou? Como está o transporte? O recurso veio? E, mesmo quando falamos em pesquisa, ainda estamos presos ao presente, porque a organização atual da pesquisa foi moldada durante a ditadura e ainda não conseguimos fazer um ajuste de contas histórico”, pontuou.
Leher também chamou atenção para os altos índices de evasão, a redução no número de ingressantes e a mercantilização do ensino como fatores que comprometem o papel social das universidades públicas e sua capacidade de pensar projetos de futuro.
Vida comunitária como pilar de futuro
Para começar a reverter esse cenário, Leher defende que é fundamental retomar a reflexão sobre a vida comunitária na universidade. Segundo ele, a instituição só poderá se consolidar como um projeto robusto de futuro se for capaz de criar espaços e condições que fortaleçam o senso de comunidade.
“Apenas uma instituição universitária é capaz de colocar no mundo o Recôncavo Baiano e, contraditoriamente, colocar o mundo no Recôncavo, ultrapassando as concepções locais e ao mesmo tempo incorporando as concepções locais para produzir um outro tipo de síntese. Como fazer isso? Apenas a juventude do recôncavo estando na universidade pode fazer, caso contrário essas perguntas não serão realizadas… Só as universidade podem fazer isso e por isso elas não podem estar prisioneiras no presentismo”.
Confira as imagens do Simpósio de Graduação da UFRB.