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UFRB instrui processo do Bembé do Mercado como Patrimônio Cultural do Brasil

Publicado: Terça, 18 Junho 2019 15:07

Professores e estudantes do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (CECULT) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) realizaram a pesquisa com vistas à elaboração de dossiê e dos documentários audiovisuais que subsidiaram a instrução do processo de Registro do Bembé do Mercado, festa tradicional da Cidade de Santo Amaro, como Patrimônio Cultural do Brasil.

A partir da celebração do Termo de Execução Descentralizada entre IPHAN e UFRB foram produzidas as informações e materiais necessários à conclusão da instrução do processo de Registro do Bembé do Mercado, que foi a submetido ao Conselho Consultivo do IPHAN para o reconhecimento desse bem cultural em reunião que aconteceu hoje dia 13 de junho.

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Após a análise de pertinência do pedido de registro pela Câmara Técnica do Patrimônio Imaterial, realizou-se a instrução técnica tendo em vista a categorização do Bembé do Mercado como Celebração, segundo as categorias de Registro dispostas no Decreto Nº 3551/2000, e  de forma ampliar o conhecimento produzido para o Registro Estadual do Bembé do Mercado.

Para o reitor da UFRB, professor Silvio Soglia, “A opção pelo regime de parceria com a UFRB, através do Termo de Execução Descentralizada - TED - justificou-se pela aderência à missão institucional da universidade, com a pesquisa e experiência de seu corpo de pesquisadores na área de culturas populares, que a credenciaram no desenvolvimento dessa pesquisa".

A pesquisa, de cunho interdisciplinar, foi coordenada pelo professor Danillo Barata, doutor em comunicação, cineasta e mestre em artes visuais, e contou com a participação das antropólogas e professoras Thais Salves de Brito, especialista em narrativas, cultura material e patrimônio, e Francesca Arcand, estudiosa dos rituais e das festas e do especialista em cultura musical afro-brasileira Jorge Luís Ribeiro de Vasconcelos. Completaram a equipe da pesquisa estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da UFRB, dentre os quais cabe destacar Manuela Pereira da Silva, Mãe Manuela de Ogum, que por seus conhecimentos específicos e vivencias relacionadas ao Bembé, atuou também como consultora e facilitadora dos contatos entre a equipe e os vários detentores e autoridades religiosas vinculadas a esta tradição.

O processo para reconhecimento das manifestações do Bembé do Mercado iniciou-se no ano de 2013, a partir da solicitação formal da Associação Beneficente e Cultural Ilê Axé Ojú Onirê.

De acordo com o material apresentado para a análise de pertinência do pedido de reconhecimento, participam dessa celebração, cerca de 44 terreiros envolvidos no Bembé, muitos dos quais os mais antigos de Santo Amaro. Estes terreiros estão organizados em um comitê gestor que elege, periodicamente, um terreiro para tomar a frente da organização da festa. O envolvimento da população, para além da participação das casas de matriz africana, se dá na parte pública do evento, enquanto devotos, e enquanto produtores de serviços e estrutura da celebração.

O Bembé do Mercado é um candomblé feito na rua que renova anualmente o axé da comunidade de santo e celebra o Treze de Maio como referência a resistência do povo de santo.

O caráter identitário do Bembé é reforçado pela delimitação de um território sagrado, compartilhado nas casas de candomblé e que, para além delas - uma vez que todos os fundamentos envolvidos percorrem várias casas que compartilham sua organização - culminam na plantação do axé em praça pública, e em outros espaços públicos e sagrados como as matas e o mar. Esse sistema cultural possui a potencialidade de criar vínculos territoriais e de solidariedade necessários à manutenção dos terreiros de candomblé e o fortalecimento da sustentabilidade de transmissão da sua tradição para as demais gerações e promoção da visibilidade da comunidade de santo da região perante os demais moradores do Recôncavo Baiano. O Bembé do Mercado é uma festa que, segundo narrativas populares, celebra o primeiro ano da publicação da lei da abolição da escravatura. Desde 13 de maio de 1889, como conta o povo de Santo Amaro-Bahia/Brasil, os negros têm celebrado o fim da escravidão. E o fazem da mesma maneira como se faz nos Terreiros de Candomblé: dançando, cantando, cultuando os orixás.

Se, regularmente, os rituais do Candomblé foram realizados com muita discrição, naquele primeiro ano de liberdade, a festa não poderia ser discreta, escondida. Foi para celebrar e louvar aos orixás, para dizer que as correntes estavam quebradas e que aquele povo poderia ter sua religião, seu corpo e sua alma que as filhas e os filhos de santo fizeram o seu Candomblé no centro da cidade. E assim se tem feito desde então, todos os anos e nesta mesma data.

Conta-se que em 1989 foram os pescadores e o Povo de Santo, sob a liderança de João de Obá, que transportaram para a rua o culto que era dos terreiros. O Brasil daquele ano, já uma República, organizou uma série de eventos cívicos para comemorar o primeiro aniversário da abolição em vários lugares, como desfiles, bailes nas associações abolicionistas e nos grupos recreativos, memoriais nas escolas e missas nas Igrejas, no entanto, boa parte destes eventos não contava com a participação ativa dos ex-escravos. Por isso, em Santo Amaro, homens e mulheres resolveram festejar à maneira de seus ancestrais. Naquele ano, aquele Candomblé de rua durou três dias. No último dia – e como parte culminante desta festa – foi entregue uma oferenda para a Mãe D´água, como já deveria ser tradicional, para agradecer pela liberdade e pelo sustento.

Com informações de Danillo Barata.

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