Colóquios em Saúde - Gênero, Ensino Superior e Saúde Mental (ELSA-Brasil)
Esse trabalho é fruto da tese de doutorado defendida em agosto de 2018 nos ISC/UFBA e teve como objetivo analisar os efeitos do estresse ocupacional, conjugado às demandas familiares, sobre a ocorrência de transtornos mentais comuns entre docentes do ensino superior do ELSA-Brasil. Estudos sobre gênero, saúde, trabalho e família entre docentes ainda permanecem pouco presentes na literatura brasileira e internacional. Os transtornos mentais comuns são caracterizados por quadros de ansiedade, depressão e sintomas psicossomáticos, atualmente considerados um relevante problema de saúde pública e, se não tratados, podem desencadear processo difícil de ser revertido. Diversos fatores podem relacionar-se ao adoecimento mental, com distinções entre homens e mulheres. As recentes transformações do sistema educacional brasileiro impuseram à docência a lógica do trabalho intensificado e precarizado. A falta de apoio social e pressões decorrentes da alocação de lógicas produtivistas nas atividades docentes (pesquisa, ensino e extensão) têm sido documentados como importantes estressores ocupacionais em ambientes acadêmicos cada vez mais precários e com relações conflituosas. A interação entre demandas do trabalho e da família também tem gerado tensão e sofrimento, pelas dificuldades de conciliação, sobretudo temporais. Essa pesquisa integrou o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA- Brasil), um estudo multicêntrico que envolve centros em capitais de seis estados brasileiros (Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo). Trata-se de um estudo transversal incluindo 2252 docentes do ensino superior de diferentes instituições, sendo 952 mulheres e 1300 homens com idade variando entre 35 e 69 anos. Os estressores ocupacionais foram mensurados pela escala sueca do Questionário Demanda-Controle-Apoio Social (DCSQ) e os TMC pelo Clinical Interview Schedule (CIS- R). O pacote estatístico Stata versão 12.0 para Windows foi utilizado para análise dos dados. Como resultados da tese foram elaborados três artigos: (1) Estresse ocupacional, saúde mental e gênero entre docentes do ensino superior: revisão integrativa; (2) Transtornos mentais entre professoras e professores do ensino superior do ELSA-Brasil: determinantes do trabalho e da família; (3) Gênero, estresse ocupacional e transtornos mentais comuns entre docentes do ensino superior do ELSA-Brasil: o tempo insuficiente para cuidar de si e lazer modifica esta associação? Entre os/as 2252 docentes estudados/as, 26,8% das mulheres apresentaram TMC contra 13,6% dos homens. Entre as docentes mulheres, houve influência de todos os aspectos investigados. Em contrapartida, entre os homens apenas o conflito trabalho-família teve influência para a ocorrência dos TMC. Em síntese, aspectos relativos a gênero que envolvem trabalho, família, tempo insuficiente para si e saúde são temas que permanecem ausentes nas produções acadêmicas dessa temática. Os elementos pautados no debate explorados nas discussões dessa tese reforçam a legitimidade e necessidade de sua abordagem.
Palestrante: Profa. Dra. Paloma de Sousa Pinho
02 DE MAIO (QUINTA-FEIRA)
16 HORAS
SALA 03 - PAVILHÃO DE AULAS