Professora vencedora do Prêmio Thomas Skidmore destaca disputa de narrativas
Em sua conferência, a professora do curso de História do Centro de Artes Humanidades e Letras, Luciana da Cruz Brito refletiu sobre a importância da premiação do trabalho apresentado ao público através do seu livro “Temores da África: segurança, legislação e população africana na Bahia oitocentista”, vencedor do Prêmio Skidmore 2018, sobre a questão racial no Brasil. Durante a apresentação no auditório do CAHL, no dia 04 de junho, a professora refletiu sobre ‘A mulher negra entre pesquisas e disputas de narrativas’, evento proposto e organizado por um grupo de estudantes do curso de
História para marcar a conquista da premiação.
“Foi iniciativa das minhas alunas queridas que estão aqui e foram elas que me atentaram para a importância dessa conferência por que para mim era um prêmio, é bacana, é uma coisa que até avalio e reflito do ponto de vista psicológico e terapêutico mesmo, mas foram elas que me chamaram atenção e refleti sobre a importância dessa conferência do ponto de vista pessoal, político e coletivo também”, explicou Luciana Brito. A autora do livro avaliou a relevância do prêmio, a partir de um lugar de fala de mulher negra, nordestina e oriunda das classes populares.
Na conferência, a professora destacou as demandas de mulheres negras de serem reconhecidas enquanto detentoras e produtoras de conhecimento epistemológico, cujas escritas não são valorizadas e não são reconhecidas por muitos, além de terem dificultado o acesso à produção intelectual. “Admito que obstáculos específicos são colocados às mulheres de classes populares trabalhadoras negras quanto à entrada no mundo das letras e da produção intelectual, portanto para as mulheres negras atuar no campo das letras, do pensamento intelectual ainda é um ato de insurgência que começa dentro de casa”, enfatizou a historiadora.
Em sua apresentação, Luciana Brito chamou atenção para o atual momento político e para o ataque que a UFRB vem sofrendo, relacionando ao fato de a UFRB ser uma universidade composta por grande número de pessoas negras. “Na UFRB, segundo dados de 2017, dos ingressantes no primeiro semestre, 50,7% são mulheres e quase 80% dessas pessoas são negras, sendo que 54,4% têm de 18 a 25 anos e 44,2% têm mais de 25 anos. A UFRB está sob ataque devido ao seu papel de empoderamento das populações negras e das classes trabalhadoras do recôncavo, sobretudo das mulheres”, concluiu. Para a historiadora, a produção intelectual feitas por mulheres negras para serem usadas como referências e tirarem a mulher negra de uma categoria heteropatriarcal é
uma demanda que vem sendo estruturada ainda lentamente, por isso a premiação tem grande importância política e social. O final da conferência foi marcado por muita emoção, com a exibição do vídeo produzido pelas organizadoras do evento, com depoimentos de pessoas da comunidade acadêmica e do Candomblé, amigas, estudantes, o companheiro e filhos da homenageada.
Luciana Brito fez questão de agradecer nominalmente algumas pessoas pelademanda para a realização do evento e enfatizar o processo coletivo de luta. “Quero
agradecer nominalmente a Liciane da Fé, minhas alunas queridas, Sandra Andrade, Alessandra Nascimento, Maria do Carmo Soares, Flora Anastácia e Maria Eduarda. Eu agradeço! Foi de fato uma reflexão importante que vocês me convocaram a fazer. Agradeço também a todos os meus colegas, mas gostaria de agradecer a Martha Rosa Queiróz, a Denise Ribeiro, a Dyane Brito, Carolina Nova, Isabel Reis, a Rita Dias, Ângela Figueiredo e a Patrícia Santos, que são mulheres negras que atuam nesse campus e que tenho a alegria de ter como colegas que fazem com que em nenhum dia dessa universidade eu me sinta só. O caminho que me trouxe aqui foi pavimentado e iniciado sobretudo por essas mulheres”, declarou emocionada Luciana Brito.
Ascom CAHL – Projeto de Extensão
Equipe: Beatriz Victoria, Crislane Nunes, Geise Ribeiro, Girlane Silva, Janaildes
Brito, Tallita Lopes