Identidades Culturais e Religiosidade são tema de encontro
A palestra do professor Kebengele Munanga, da USP, sobre as relações do povo africano com a natureza, símbolos e artes marcou a abertura do VII Simpósio de Identidades Culturais e Religiosidades, ontem, pela manhã, no auditório do Centro de Artes, Humanidades e Letras.
O pesquisador partiu dos conceitos de cultura e identidade, empregados na antropologia, para destacar a importância de romper com a imagem depreciativa que é difundida, a partir de outras visões, para construir uma concepção mais verdadeira de identidade. Para isso, segundo Munanga, é fundamental considerar o olhar da comunidade negra, quer africana ou em sua constituição diaspórica no Brasil, considerando o processo de memória coletiva a ser transmitida para as futuras gerações.
O seminário é uma continuidade do evento que iniciado em 2007, com a proposta de ser um espaço de reflexão e troca de saberes sobre questões culturais pertinentes às relações identitárias e religiosas do Recôncavo, na Bahia e cada vez somando experiências internacionais. O professor Xavier Gilles Vatin, da UFRB, apresentou a pesquisa, ainda inédita, realizada no pós-doutorado, nos Estados Unidos. Na palestra sobre Memórias Diaspóricas - as gravações de Lorenzo Turner na Bahia, nos anos 1940, Vatin apresentou o estudo das línguas africanas faladas e cantadas nos candomblés da Bahia. O material em que Turner registra os mais eminentes sacerdotes e sacerdotisas da época foi encontrado intacto pelo professor e disponível em 329 discos, chegando a um total de 52h de gravação. Alguns trechos foram divulgados durante o evento.
Resultado da parceria entre a Fundação Hansen Bahia e do CAHL/UFRB, o encontro superou as expectativas do organizador e professor da UFRB, Wilson Penteado, que aponta a configuração diferenciada desta edição: “É a edição que a gente mais está trazendo pesquisadores do estado da Bahia, isso não quer dizer que por isso seja melhor, mas é diferente do que a gente já vinha fazendo, e propicia esse diálogo. Por exemplo, os professores de São Paulo, mesmo sendo de lá, alguns estão se conhecendo em função do evento.”. O coordenador executivo da Fundação Hansen Bahia, Elias Gomes de Souza considera uma conquista o encontro de pensadores dos campos da antropologia, história e da comunicação e já está pensando na oitava edição. “A interdisciplinaridade sempre almejada foi alcançada nessa edição”, enfatiza.
A escolha do período da festa da Boa Morte, que acontece durante essa semana em Cachoeira, para a realização do evento não foi por acaso. O contexto da irmandade de mulheres negras e sua profunda relação com a religiosidade traduz uma atmosfera adequada para reflexões sobre novos sentidos para a temática cultural. À tarde, a programação seguiu com o Adido Cultural Adjunto da Embaixada e Diretor Geral do Centro Cultural Casa de Angola na Bahia Camilo Afonso, seguido por George Cabral (UFPE) que abordou o tema Colonização, Identidade e Poder, e Ana Margarida Santos, da Universidade Amsterdã, que falou sobre Identidades, trânsitos e mestiçagens.
Para Assunção Oliveira, que veio de Santo Antônio, “é fundamental relatar e exaltar a religião africana, principalmente para nós que somos adeptos do candomblé. É um trabalho feito a partir da religião, principalmente africana, enaltecendo para que o povo conheça a religião e perca esse preconceito que ainda existe na Bahia, em Cachoeira, no alunado.”
Foto: Laís Sousa
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