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Livro de professor da UFRB analisa a censura nas telenovelas brasileiras durante a Ditadura Militar

10/10/25 08:21 , 10/10/25 08:30 | 588
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Durante o regime militar, a censura no Brasil não se limitou à repressão política, mas também se estendeu às produções culturais do país, especialmente às telenovelas. É a análise dessa imposição que Guilherme Fernandes, jornalista e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), apresenta em seu livro “Mentalidade censória e telenovela na ditadura militar”, que será lançado no próximo dia 15 de outubro. A obra investiga como os valores morais impostos pelo regime influenciaram as produções televisivas da época, impactando a forma como a sociedade brasileira se via representada na tela.

A investigação de Fernandes parte do conceito de mentalidade censória que, segundo o autor, refere-se a um período que vai além do regime ditatorial, tendo início no Brasil Colônia e se estendendo até a promulgação da Constituição de 1988. Esse conceito remete à imposição de uma moral conservadora e autoritária sobre as produções culturais do país, com base em valores como patriarcalismo, machismo, racismo, homofobia e misoginia. Durante a Ditadura Militar, essa censura se intensificou, com o regime utilizando a televisão como uma ferramenta de controle social e político.

De acordo com Fernandes, a telenovela ocupa um papel central em sua pesquisa por ser o produto da indústria cultural brasileira mais consumido e com maior capacidade de influenciar debates públicos. Segundo ele, sua escolha se deu tanto pela relevância social do gênero quanto pela escassez de estudos específicos no contexto da censura. “Um assunto tratado na telenovela ganha as ruas e os temas passam a ser discutidos socialmente. Ademais, à época em que iniciei os estudos, constatei uma carência nessa forma de diversão. Há vários trabalhos sobre censura à música, teatro, cinema e livros, contudo não havia estudos específicos sobre a telenovela”, explica.

Após analisar pareceres censórios disponibilizados pelo Arquivo Nacional, Fernandes constatou que a atuação da censura nas telenovelas não se limitava a barrar conteúdos politicamente sensíveis ou contrários ao regime militar. Ela também impunha uma visão moral conservadora, interferindo diretamente nos enredos, personagens e temas abordados. “A censura agia como uma verdadeira ‘autora’ das novelas, modificando enredos e personagens. Diversos temas de interesse social tiveram de ser eliminados e outros atenuados. A mentalidade censória agia a partir do lema integralista "Deus, Pátria e Família", ressalta o pesquisador.

Dessa forma, a censura não era apenas uma medida política; ela representava uma mentalidade censória — um modo de pensar conservador e autoritário que atravessa a história do país. Fernandes argumenta como essa lógica interferia na maneira como a sociedade era representada e moldada pelas novelas. 

Mesmo após o fim da censura oficial, Fernandes observa que traços da mentalidade censória ainda persistem na sociedade brasileira. Segundo ele, formas de controle sobre a produção cultural continuam existindo, agora mediadas por interesses econômicos, políticos e religiosos. “Ainda hoje há uma tentativa do Estado tutelar o que as pessoas podem ou não consumir no âmbito cultural. Ainda hoje encontramos esses valores sendo debatidos por políticos-religiosos e a criação de projetos de leis que visam proibir algo tido como imoral ou que fere os bons costumes”, conclui.

Lançamento oficial 

O livro de Guilherme Fernandes será lançado no dia 15 de outubro, às 15h, durante o II Congresso de História Social da Bahia, no Centro de Cultura Vereador Manuel Querino, em Salvador. O evento contará também com uma mesa intitulada “Órgãos de informação, censura e arquivos da repressão: da ditadura à democracia”, com a participação dos professores Vicente Arruda (UFRJ/LETACI) e Joviniano Neto (UFBA), ao lado de Fernandes. A entrada é gratuita.

Sobre o autor

Professor Adjunto do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) e do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFRB, Guilherme Fernandes é doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e jornalista por formação. Realizou estágio pós-doutoral junto ao Programa de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Em 2023, recebeu da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) o prêmio Luiz Beltrão na categoria Liderança Emergente. Foi presidente da Rede de Estudos e Pesquisa em Folkcomunicação (Rede Folkcom) e coordenador do GT História das Mídias Audiovisuais da Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar). É pesquisador do Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura (CNPq/UFRB/UFBA). Tem pesquisado e orientado sobre folkcomunicação, censura às diversões públicas e homossexualidades nas telenovelas brasileiras.

Como acessar a obra

“Mentalidade censória e telenovela na ditadura militar” é resultado da tese de doutorado de Guilherme Fernandes, defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O livro tem financiamento, por meio de edital de publicação, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

A obra pode ser baixada gratuitamente para leitura. Além disso, a versão física será comercializada em plataformas online e também distribuída para bibliotecas e centros de pesquisa da Bahia, incluindo a UFRB, com uma tiragem limitada de exemplares.

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