A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), obteve duas cartas patentes junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) pela formulação e desenvolvimento de novos produtos alimentícios. As concessões referem-se à criação de uma mistura pronta para bolo sabor uva e cacau e uma barra alimentícia funcional prebiótica, com foco em sustentabilidade e saúde.
As inovações foram desenvolvidas pelo grupo de pesquisa Alimentação Coletiva e Bioativos em Alimentos (AliBio), vinculado ao Centro de Ciências da Saúde (CCS), campus da UFRB em Santo Antônio de Jesus. A formulação e a criação dos produtos foram realizadas pela professora e líder do AliBio, Karina Zanoti, com a participação, nas etapas posteriores, de estudante, técnicos e professores do IFRS e egresso da UFRB.
Os produtos seguem as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e foram pensados para atender pessoas com diversas restrições e/ou alergias alimentares, incluindo público diabético, celíacos e alérgicos à proteína do leite, glúten e outros alergênicos comuns regulamentados pela Anvisa. "As formulações são isentas de todos os alergênicos regulados pela Anvisa, o que confere a inclusão alimentar em todas as esferas", afirma a professora Karina.
As fórmulas foram desenvolvidas com ingredientes 100% naturais e o aproveitamento de resíduos agroindustriais, como o bagaço de uva e de maçã, ambos desidratados. "Esses resíduos são altamente nutritivos, gerados em volumes consideráveis durante a produção de sucos e vinhos e muitas vezes são descartados", como explica a docente. A produção é de baixo custo e os novos alimentos estão alinhados às diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira.
A análise sensorial dos novos produtos identificou a aceitação acima de 90% e os testes de vida útil indicaram que a validade é de sete meses à temperatura ambiente, sem qualquer adição de conservadores artificiais.
Para a professora Karina, o diferencial das inovações está no seu caráter sustentável e salutar. São alimentos funcionais, ou seja, possuem compostos que ajudam a prevenir doenças crônicas. Com alto teor de fibras e a presença de ingrediente prebiótico, os alimentos contribuem para a manutenção da saúde intestinal. Na fórmula está o frutooligossacarídeo (FOS), um prebiótico naturalmente encontrado em alimentos e com ação positiva na disbiose, um desequilíbrio da microbiota intestinal.
Sobre a conquista das patentes, a professora ressalta que o mais significativo é a projeção mundial da Universidade a partir do ineditismo, da tecnologia verde e da inovação. “A UFRB ser citada em bancos internacionais de patentes é algo extraordinário. Depositar uma patente é uma tarefa razoavelmente simples, mas ter uma patente concedida é um feito que coloca a UFRB em pé de igualdade com instituições de qualquer lugar do mundo”, afirma.
Ela destaca ainda o orgulho de ver esse tipo de realização acontecendo no interior da Bahia: “É lindo ver isso acontecendo bem aqui, com pessoas simples e comuns como eu. E mais ainda, saber que um produto inédito no mundo está sob propriedade exclusiva da UFRB e do IFRS por 20 anos, desenvolvido a partir de ingredientes que normalmente teriam pouco ou nenhum valor comercial, como resíduos ou cascas”.
Mistura alimentícia de uva e cacau
Trata-se de uma mistura pronta para o preparo de bolos e outros alimentos de confeitaria, como tortas, cupcakes e muffins. Entre os ingredientes usados estão: o resíduo industrial do bagaço de uva desidratado, fermento químico obtido de fonte natural e cacau em pó.
A mistura é isenta de corantes, aromatizantes e saborizantes artificiais, gorduras e óleos. As características convencionais foram preservadas, mas o sabor tornou-se autêntico, devido à proporção estabelecida para o resíduo e o cacau, não tendo outro alimento conhecido que possua o mesmo sabor.
Barra alimentícia prebiótica
Trata-se de uma barra alimentícia, sem aditivos artificiais. Os principais ingredientes da composição são os resíduos do bagaço de uva e de maçã desidratados. Com aparência similar aos produtos convencionais, não apresenta açúcar, glúten, lactose e proteína de leite. O objetivo era auxiliar na condução adequada dos rejeitos da indústria vitivinícola e do suco de maçã e diminuir os custos elevados de produção.
Além destes novos produtos, o AliBio já possui outras patentes concedidas, todas criadas a partir de ingredientes funcionais. "As patentes concedidas neste ano, foram desenvolvidas, depositadas, avaliadas e concedidas no período menor que três anos, o que também demonstra o teor das inovações", destaca a professora Karina.
Você pode acompanhar as atividades do grupo pelo Instagram: AliBio.