O que há por trás das promessas de inovação tecnológica e eficiência algorítmica? No livro “IA, Entre Fantasmas e Monstros – Como os algoritmos precarizam o trabalho e alimentam o autoritarismo”, o filósofo e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Cristian Arão, coloca em pauta um tema central para o debate público contemporâneo: os efeitos políticos e sociais da Inteligência Artificial (IA).
Com uma abordagem crítica e acessível, a publicação analisa os impactos provocados pelas tecnologias baseadas em IA, especialmente no contexto da automação, da manipulação de dados e da vigilância digital. Desnudando os bastidores dessas inovações, Arão revela como a IA está sendo utilizada como ferramenta de precarização das relações de trabalho e como instrumento que favorece práticas autoritárias em diversas partes do mundo.
“A inteligência artificial virou o novo oráculo do século XXI, mas, na prática, ela responde a perguntas moldadas por interesses econômicos e políticos”, afirma o autor. “Por trás da promessa de inovação, há fantasmas históricos e monstros políticos que precisamos nomear e enfrentar”.
A obra chama atenção para esses fantasmas e monstros, convidando o público a refletir sobre quem realmente se beneficia dessas tecnologias e quais são os riscos de se entregar decisões sociais, econômicas e políticas a elas. O autor argumenta que os algoritmos, cada vez mais sofisticados e menos transparentes, não são neutros ou autônomos. Ao contrário, são moldados por estruturas de poder, interesses corporativos e contextos históricos de desigualdade.
Combinando elementos da filosofia, teoria política, psicologia e estudos da tecnologia, o autor discute como tais mecanismos vêm sendo usados para influenciar comportamentos, segmentar eleitores, espalhar desinformação e enfraquecer instituições democráticas. Arão aponta que essa lógica algorítmica intensifica e se torna parte do jogo político global, amplificando fake news e o enraizamento de discursos extremistas.
“A IA não cria o extremismo - ela o amplifica. Transforma medo em votos, precarização em métricas, exclusão em ‘otimização’”, afirma o autor. “Ao contrário do que vendem os entusiastas da inovação, a IA não representa uma ruptura com a história, mas a intensificação dos velhos fantasmas da exploração e dos monstros do autoritarismo”.
"IA, Entre Fantasmas e Monstros" é fruto da pesquisa de pós-doutorado do autor no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade de Brasília. O lançamento da obra ocorreu no último dia 9 de agosto, em Salvador, pela Kotter Editorial.
Quem é o autor
Cristian Arão é doutor em Filosofia pela UFBA, professor da UFRB e pesquisador da Estratégia Latino-Americana de Inteligência Artificial (ELA‑IA). Sua pesquisa investiga os impactos sociais, políticos e éticos das tecnologias emergentes, com foco na IA.