Uma vez por semana, a rotina das turmas do 1º e 2º anos do Ensino Fundamental da Escola Municipal Professora Maria dos Anjos Salles Brasil, em Santo Amaro, é transformada por uma experiência educativa diferente com objetivo de combater o racismo religioso. Nesses momentos, as disciplinas convencionais dão lugar a atividades conduzidas por estudantes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), por meio do projeto "Cenas de resistência: O teatro no combate ao racismo religioso nas escolas de Santo Amaro".
Cerca de 30 crianças participam do projeto. As atividades usam teatro, música e literatura para apresentar aos pequenos estudantes elementos das religiões de matriz africana de forma lúdica e acessível, promovendo uma educação antirracista e valorizando a cultura afro-brasileira.
Inspirado nos Itã dos Orixás gêmeos Ibeji, figuras da mitologia iorubá associadas à infância e à alegria, o projeto busca desmistificar os Orixás e promover o respeito à diversidade religiosa desde os primeiros anos escolares.
“A gente acredita numa educação que movimente o corpo e pense a liberdade a partir da movimentação corporal. Isso ajuda a criar senso crítico e senso de comunidade”, afirma Iroko Fumínlayó, um dos integrantes do grupo. O projeto conta com outros cinco estudantes e um egresso do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (CECULT)/UFRB, com orientação da pedagoga Claudete Teixeira, na escola parceira.
Oficinas, formação docente e envolvimento da comunidade
Desde fevereiro, o grupo já realizou oficinas com as crianças, promovendo a exploração de narrativas afro-brasileiras e o desenvolvimento da expressão corporal. Também foi feita uma formação para os professores, com foco em práticas pedagógicas antirracistas e estratégias para integrar a cultura afro-brasileira ao currículo escolar.
Outra ação realizada foi a montagem coletiva de um teatro de fantoches inspirado nos Itã de Ibeji, com participação da comunidade escolar. A apresentação final está prevista para maio, como culminância do projeto e forma de consolidar o aprendizado.
A diretora da escola, Cláudia Alves, destaca o entusiasmo das crianças com as atividades, graças à ludicidade e às dinâmicas propostas. No entanto, ela reconhece que ainda existe resistência por parte de algumas famílias, que não compreendem a importância de abordar religiões de matriz africana no ambiente escolar.
“Racismo, preconceito e a falta de respeito às religiões devem ser discutidos de forma aberta e responsável. Na maioria dos casos, é a família quem precisa ser orientada sobre as propostas lançadas no ambiente escolar, que devem estar atreladas ao currículo”, afirma a gestora.
Origem e financiamento
A ideia do projeto surgiu a partir da peça teatral “Ibeji e o Medo”, apresentada pelos próprios organizadores. A iniciativa é realizada por meio do programa Cultura REC 4.0, com apoio do Centro de Referência Integral de Adolescentes e da Bracell Social.
Saiba mais sobre o Cenas de resistência, na rede social do projeto.