“Luiza Bairros dizia que uma homenagem só é válida se as pessoas incorporarem o legado do homenageado”, disse Fernanda Bairros, sobrinha de Luiza, durante o Fórum Internacional Pró-Igualdade Racial e Inclusão Social do Recôncavo (Fórum 2024) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Em sua 18ª edição, o evento fez uma femenagem a Luiza, celebrando seu legado e, sobretudo, promovendo reflexões sobre políticas de ações afirmativas e a luta antirracista, entre outros temas caros para a femenageada. Para isso, o Campus de Cruz das Almas foi palco de diversas atividades como oficinas, mesas redondas, rodas de conversa, atrações culturais, além de oferta de serviços à comunidade.
Na abertura do evento, na noite de 21 de novembro, Georgina Gonçalves, reitora da UFRB, falou sobre a importância do Fórum para a consolidação do “projeto da UFRB”, que sendo uma universidade do território, é “consolidada em torno de setores da população que antes não frequentavam essas instituições”. Segundo ela, o Fórum “é a celebração de algo que é perseguido por uma sociedade que se quer mais democrática que é uma sociedade com mais igualdade racial”.
Denize Ribeiro, pró-reitora da Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis (PROPAAE), também falou, ainda na abertura do evento, sobre o Fórum ser um espaço para fomentar a discussão sobre questões étnico-raciais e, assim, provocar reflexões na comunidade acadêmica. “Para lutar contra o racismo a gente precisa estar preparado. Nesta universidade, o objetivo da PROPAAE é preparar cada vez mais nossos estudantes para esses enfrentamentos, para o combate ao racismo, à misoginia, à violência e para a disputa nessa sociedade que deve pertencer também a eles e elas”, disse Denize.
Ainda sobre a noite de abertura do Fórum 2024, o dispositivo institucional contou com a presença de diversas autoridades, a exemplo de representantes do Ministério da Igualdade Racial, da Educação, de movimentos negros, além de gestores da UFRB. A socióloga Vilma Reis foi a responsável pela conferência de abertura e também relembrou as ações de Luiza, com destaque para o combate ao racismo institucional e na luta pela implantação das ações afirmativas na educação e no serviço público.
“Nós acreditamos que é possível a gente continuar forjando uma militância política, negra, no feminismo negro, com o grau de compromisso político que Luiza Bairros teve e nos ensinou. Para nós, ela é uma escola de política e de potência”, afirmou Vilma.
Exposição Luiza Bairros: Lentes e Voz
Para completar a programação da noite de abertura do Fórum 2024 foi realizado o lançamento da exposição “Luiza Bairros: Lentes e Voz”, que contou com a curadoria da professora Martha Rosa, do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL/UFRB).
A ideia da exposição é ser “um passeio pela história do movimento negro, das mulheres negras, das políticas públicas por igualdade racial no brasil a partir de Luiza Bairros”, conforme explicou Martha. Para isso, a curadoria reuniu objetos pessoais, depoimentos, registros de discursos, vídeos sobre a trajetória, textos produzidos por e sobre a ativista. A exposição também conta com espaços dedicados às políticas públicas criadas por Luiza e aos novos feminismos revisitados. Há ainda, ambientes interativos, inclusive para o público infantil.
A exposição “Luiza Bairros: Lentes e Voz” está localizada no foyer da Biblioteca Central do Campus de Cruz das Almas e pode ser visitada de forma gratuita até 28 de novembro. Depois, ela seguirá para outros campi da UFRB.
Aproximação com a comunidade
O Fórum 2024 além de trazer atividades voltadas para discussões acadêmicas, também abriu espaço em sua programação para que a comunidade externa participasse do evento. Isso foi possível graças às feiras de saúde da população negra e de artesanato, apresentações culturais e realização de oficinas.
Na Feira de Saúde da População Negra foram ofertados serviços de saúde, tanto básicos, como aferição de pressão arterial, medição de glicemia, orientações, até exames como ultrassonografia e eletrocardiograma. Foi também um momento para oferecer à população serviços da prática integrativas e complementares, como mandala, reiki e escalda pés. O professor Paulo Falcão, do Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRB) estava em uma das tendas realizando massoterapia e ventosaterapia. Para ele, esses serviços promovem “a diminuição da ansiedade, de estresse, da pressão arterial, o conforto para essas pessoas. Então são alternativas importantes para pessoas que sempre viveram espaços de secundarização e em espaços de opressão”.
A realização da Feira foi possível graças à parceria da UFRB com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, por meio do Saúde Mais Perto, Prefeitura de Cruz das Almas, entre outras instituições públicas e privadas.
Paralelamente à Feira de Saúde, também aconteceu a Feira de Artesanato, onde artesãos locais puderam expor e comercializar seus produtos de artesanato e culinária, que valorizam as raízes e contam histórias do Recôncavo.
Os(As) visitantes também tiveram oportunidade de aprender nas oficinas oferecidas nos dias do evento. Instrumentos de percussão, autodefesa para mulheres, tranças afro e turbantes foram alguns dos temas dos ensinamentos ofertados.
Todos os três dias do Fórum 2024 foram encerrados com apresentações culturais de artistas do cenário local e nacional. Passaram pelo palco da UFRB Alana Sena, Samba das Cumades, Banda Didá, Samba de Roda de Dona Dalva e Matilde Charles.
Discussões
As questões étnico-raciais pautaram o Fórum 2024 e foram debatidas em mesas redondas e rodas de conversa que contaram com a participação de pesquisadoras, ativistas, gestoras, estudantes e militantes do Brasil e de diferentes países. Corroborando com o objetivo do evento de fomentar produções acadêmicas, científicas e culturais, estudantes também apresentaram trabalhos sobre o assunto.
Em consonância à femenagem a Luiza Bairros e às pautas levantadas por ela, as discussões giraram em torno, principalmente, das ações afirmativas para inclusão da população negra no mercado de trabalho e na educação, nas questões de gênero e enfrentamento ao racismo.
Durante o Fórum, também foi realizado o I Seminário de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis. O evento reuniu pró-reitores(as) de políticas afirmativas de universidades da Bahia, que compartilharam as perspectivas e desafios enfrentados para a consolidação e ampliação das ações inclusivas.
Movimentos estudantis, como o Coletivo Lobas, trouxeram a discussão sobre políticas de parentalidade, que diz respeito ao acesso e permanência de pessoas com filhos(as) na universidade. Representantes de outras instituições públicas também participaram da discussão trazendo assuntos como saúde mental e inclusão de pessoas trans.
Troféu Luiza Bairros
Pessoas com histórico de contribuição para a luta antirracista e apoio às ações afirmativas foram homenageadas com o troféu Luiza Bairros. Ao total, 39 personalidades, como Lázaro Ramos, representado no evento pelo pai Ivan Ramos, Marinete e Antonio da Silva, do Instituto Marielle Franco, atores e atrizes, pessoas ligadas à quilombos e à religiões de matrizes africanas receberam a premiação. Servidores da UFRB também foram agraciados(as) com a homenagem.
O troféu foi criado pelo artista visual Mário Vasconcelos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Forinho
“Incluir uma programação para crianças é pensar nosso papel na formação delas, que elas serão os sujeitos que já atuam e atuarão na comunidade, inclusive numa dimensão antirracista”, explicou Fernanda Souza, sobre o Forinho. O evento, que compõe a programação do Fórum Internacional Pró-Igualdade Racial e Inclusão Social do Recôncavo desde 2018, abrange o público infanto-juvenil de escolas públicas e particulares da região.
Neste ano, crianças e adolescentes puderam assistir apresentações culturais de samba de enxada, peças teatrais, capoeira e ciranda, além de interagirem através de brincadeiras lúdicas feitas para promover entre eles(as), desde cedo, a cultura antirracista. Além de espectadores, estudantes do Colégio Luciano Passos participaram da programação do Forinho expondo suas obras para o público.
Encerramento
A noite de encerramento, em 23 de novembro, foi marcada pela conferência de Carla Akotirene e pelo desfile da beleza negra, ambos realizados na tenda Quilombo Pitanga de Palmares.
Carla é autora de livros e concentra estudos sobre feminismo negro, racismo estrutural e equidade de gênero e interseccionalidades. Na fala que encerrou o Fórum 2024, ela, que teve oportunidade de conviver com Luiza Bairros, discorreu sobre os aprendizados e a luta que compartilhou com a ativista. “Ela me formou em termos intelectuais, em termos de aceitar as minhas preferências teóricas e metodológicas. Aprendi com ela que a gente precisa de um compromisso femininsta negro de relevância a tudo que foi sustentado em termos epistemológicos e no legado das mulheres negras para mostrar a inseparabilidade do racismo, do capitalismo e do heteropatriacardo”, disse.
A exaltação à diversidade da beleza negra animou o público e encerrou o evento.
Confira a cobertura fotográfica do Fórum 2024.
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