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IDENTIDADES

EDUFRB publica livro Ser Baiano na Medida do Recôncavo, do professor Diniz

Diniz estudou 28 periódicos impressos de Cachoeira, do período de 1832 até 1946, para traçar as identidades baiana e do recôncavo. Livro é parte de sua tese de doutoramento em Cultura e Sociedade (UFBA).
12/03/19 16:01 , 13/03/19 14:58 | 1973

O que é ser baiano? E baiano na medida do Recôncavo? 

Para responder a esse processo de formação de identidade, o jornalista, professor e pesquisador José Péricles Diniz, estudou o jornalismo regional, especificamente a localidade de Cachoeira, por seu pioneirismo e intensa produção jornalística, sobretudo a partir do Século XIX e até a primeira metade do Século XX, atrás de respostas.

Desse estudo, nasceu a tese de seu doutoramento em Cultura e Sociedade, na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o livro físico e digital Ser baiano na medida do recôncavo, publicado e reproduzido pela Editora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (EDUFRB). O livro físico custa R$ 30,00 (trinta reais) e está disponível na sede da EDUFRB, em espaço localizado na Biblioteca Central, Campus Cruz das Almas.

Diniz também é autor do livro O Jornal na Escola, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). O livro é parte integrante e importante de sua dissertação de mestrado em Educação, pela UFBA.

Para este Ser baiano na medida do recôncavo, contendo 252 páginas, Diniz iniciou o levantamento de informações pelo ano de 1823 – quando surgiu o primeiro jornal impresso em uma localidade do interior da Bahia, O Independente Constitucional, da cidade de Cachoeira – até pelo menos o encerramento do ciclo da cana-de-açúcar, entre o final do Século XIX e a primeira metade do século passado. Estudou as páginas de 28 periódicos de diferentes matrizes ideológicas.

O objetivo foi levantar, na trajetória destes periódicos, as principais influências à construção simbólica que permeia aquilo que está escrito, inspirando e orientando a formação da identidade baiana e, principalmente, do Recôncavo.

Diniz reconhece que “para analisar a produção discursiva da imprensa não se deve, portanto, deixar de considerar a sua condição institucional de poder, o seu lugar de fala”.

Com o recorte espacial dos periódicos cachoeiranos, no período de 1832 até 1946, Diniz buscou identificar e levantar na trajetória dos veículos da imprensa periódica regional as influências mais significativas na formação da identidade sociocultural do Recôncavo da Bahia, buscando estabelecer como foi articulado historicamente o discurso predominante, em suas dimensões política e ideológica, bem como demonstrar como essa imprensa efetivamente participa desse processo de produção de representações e de sentidos.

“Nos periódicos impressos é possível encontrar os temas e problemas mais caros e urgentes para dado período histórico”, destaca Diniz, que exerceu as funções de revisor (1985), repórter (1985 a 1991), chefe da Sucursal Recôncavo (1991 a 2003), chefe da Sucursal Metropolitana (2003 a 2004), editor e repórter especial (2004 a 2005) do jornal A Tarde.

Ao selecionar e classificar para análise uma mostra significativa daquilo que foi veiculado na imprensa em relação à criação, legitimação e reforço de representações sociais, atribuição de valores ou cristalização de estereótipos, é possível compreender como foram configurados e articulados ideologicamente os discursos destinados à formação da identidade regional.

Diniz aponta que a própria imprensa é de importância sociocultural inquestionável para o desenvolvimento daquilo que o organismo midiático nacional convencionou chamar de baianidade, bem como seus arquétipos tão difundidos pelo turismo e através de produtos como a música, a literatura, o humor e até mesmo a chamada crítica social veiculada através dos artigos e editoriais desta mesma imprensa.

Para ele, é preciso propor e defender a tese de que o discurso jornalístico é, efetivamente, um instrumento tão eficaz e influente quanto às tradições, as práticas culturais e formais de ensino na formação de valores e no estabelecimento de noções como cidadania, urbanidade, progresso ou nacionalismo.

Traços culturais

Estudando o período histórico destacado, o autor, diz que “aqui, as palavras-chave para decifrar as motivações que alimentam tão efusivas mágoas contra o próprio local de nascimento estão enumeradas entre aquilo que a Bahia não pouparia ou respeitaria, principalmente nome, posição e reputação”.

Afinal, quem os tem são aqueles detentores de algo sobre o qual possa cair a inveja e a intriga dos tais guerrilheiros, aqueles covardes que maldizem, especulam e dilaceram justamente por não terem família (no sentido de berço, de procedência, herança), não terem poder (cargo público, ascensão, hierarquia) e não terem o respeito (celebridade, glória, honra) dos seus pares.

Por fim, cabe a consideração de que tal herança – de que as coisas na Bahia são diferentes, em geral piores, embora também melhores que a dos outros, quando conveniente – permanece arraigada, legitimada e reproduzida insistentemente pela estrutura midiática até hoje.

Tal qual as queixas de lideranças empresariais, políticas, intelectuais e artísticas contra uma certa ingratidão da Bahia para com os seus expoentes. Além desta tendência em ser ingrata para com os seus filhos ilustres, a ótica de grande parte dos redatores cachoeiranos do Século XIX também acusa a Bahia de padecer de determinados problemas relacionados às vocações e aptidões naturais do seu povo.

O livro demonstra claramente como foram construídas, “através das páginas dos mais importantes periódicos cachoeiranos de um período bastante extenso que vai do ano de 1832 até 1946, arquétipos e estereótipos como do povo festivo, porém preguiçoso e carente de um líder, fruto de uma mestiçagem que inclui ainda a morena sedutora e o mulato pachola’.

Todos enredados em um rol de referências, estigmas e preconceitos que mais tarde seriam fartamente utilizados tanto pelas narrativas literárias e musicais – como os romances de Jorge Amado e os sucessos radiofônicos de Dorival Caymmi – quanto pelos personagens de humor, do cinema e da televisão, com a intenção de vender produtos, apelos turísticos ou mesmo manipulações de cunho político-populistas os mais diversos.

Como estas conclusões evidenciam, todos eles estão lá, o mulato pachola, a morena sedutora e o preto preguiçoso, estereotipados nas páginas da imprensa regional cachoeirana.

Para a identidade baiana, esses periódicos ajudaram a “demarcar e afirmar a medida do baiano enquanto povo indolente e mestiço, musical, hospitaleiro e festivo, embora ingrato e governado por ladrões” e relegando, ainda, a explorar um eventual potencial turístico ou em promover ou valorizar a identidade cultural ou o patrimônio musical, culinário, artístico nas páginas dos jornais daqueles anos.

“De fato, produzidas pelos redatores de jornais cachoeiranos desde as primeiras décadas do Século XIX, são recorrentes e eloquentes ideias de Bahia e de ser baiano. Ou seja, noções construídas e legitimadas de como deve ser e se comportar os indivíduos do Recôncavo, como sementes daquilo que mais tarde seria definido como baianidade”, define o autor.

Periódicos pesquisados

O autor selecionou os jornais de maior destaque, a partir de parâmetros como a periodicidade, formato e tiragem até a sua longevidade, o tempo em que esteve em circulação, abrangência, influência política ou algum detalhe curioso ou peculiar em sua trajetória.

O levantamento de tais características, complementado e enriquecido com testemunhos e relatos de época, certamente forneceu pistas seguras para balizar a efetiva abrangência e poder político de cada publicação. Desse recorte foram pesquisados O Recopilador Cachoeirense (1832), O Constitucional Cachoeirano (1837), O Paraguassu (1847), O Povo Cachoeirano (1849), O Argos Cachoeirano (1850), A Voz da Mocidade (1850), O Almotacé (1850), O Vinte e Cinco de Junho (1853), Jornal da Cachoeira (1855), O Progresso (1860), O Americano (1867), A Formiga (1869), A Grinalda (1869), A Ordem (1870), Sentinella da Liberdade (1870), Echo Popular (1874), A Verdade (1876), O Guarany (1877), O Futuro (1878), O Santelmo (1880), Diário da Cachoeira (1880), Echo do Povo (1881), A Imprensa (1884), O Brazil (1886), O Tempo (1887), O Republicano (1890), A Cachoeira (1896) e Pequeno Jornal (1912).

Leia essa e outras publicações em https://www1.ufrb.edu.br/editora/titulos-publicados.

 

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