Márcio Meirelles recebe título de Doutor Honoris Causa da UFRB e faz aula magna
O ex-secretário estadual de Cultura da Bahia e diretor teatral Marcio Meirelles, 64 anos, será agraciado com o título de Doutor Honoris Causa, concedido pelo Conselho Universitário da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em sessão solene marcada para a próxima quinta-feira, dia 28, às 9h, no Auditório da Biblioteca, Campus Cruz das Almas.
Meirelles é a segunda personalidade de relevantes serviços prestados à sociedade que receberá a honraria, concedida pela UFRB. A proposta de homenagem partiu do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologia Aplicada (CECULT) e reconhece seu trabalho em mais de quarenta anos de atuação ininterrupta na Cultura e nas Artes, especialmente nas Artes Plásticas e as Artes Cênicas, além da gestão cultural.
Após a sessão solene, Meirelles fará a Aula Magna de abertura do semestre letivo de 2019.1, no mesmo local da homenagem. A Aula Magna será sobre “A arte e seus tempos”.
Marcio Meirelles é diretor de teatro, autor, cenógrafo, figurinista, iluminador e gestor público. Em 1990, criou o Bando de Teatro Olodum, antes ligado ao tradicional grupo de música de Salvador, mas independente a partir de 1994; revitalizou o Teatro Vila Velha com o trabalho no bando, formado apenas por atores negros. É autor do texto e da encenação no teatro de “Ó Paí Ó”, que revelou o ator Lázaro Ramos, depois se tornaria filme financiado pela Globo Filmes, em 2007 e virou série de televisão na Rede Globo, com duas temporadas, uma em 2008/2009 e a outra em 2010.
Ele dirigiu diversos espetáculos de música, de artistas como Tom Zé, Caetano Veloso, Daniela Mercury, Margareth Menezes, entre outros. Foi diretor do Teatro Castro Alves durante o governo de Waldir Pires (1987-1991) e secretário de Cultura do estado da Bahia, na primeira gestão de Jacques Wagner (2007-2011).
Honoris Causa
Segundo a Resolução Nº 06/2001, do CONSUNI, o título de Doutor Honoris Causa é concedido “a personalidades eminentes, nacionais ou estrangeiras, não pertencentes ao quadro de servidores efetivos da UFRB, que se tenham distinguido pelo saber e/ou pela atuação em prol das Ciências, das Artes, da Filosofia, das Letras, das Culturas, do desenvolvimento e entendimento dos povos, cuja contribuição seja ou tenha sido de alta relevância para o País ou para Humanidade”.
Em defesa da concessão do Título de Doutor Honoris Causa a Marcio Meirelles, o CECULT explica que ele exerceu as funções de pesquisa, formação, ensino, extensão e administração – todas elas características das atividades de um Professor Doutor.
Esse trabalhou de Mereilles resultou em produção artística, técnica, acadêmica e administrativa, reconhecida na Bahia, no Brasil e em vários países, que o tornaram referência na sua área de atuação, influenciando artistas, estudantes, profissionais e amadores, a partir de uma busca de inspiração sem preconceitos, percorrendo desde os caminhos dos grandes autores clássicos da dramaturgia e da literatura universal aos anônimos contribuintes dos saberes populares, realizando com isso uma contribuição ímpar para a cultura brasileira.
No teatro amador universitário, Meirelles produziu um trabalho de pesquisa exaustivo e ambicioso, com práticas de formação e difusão de conhecimento, que influenciariam gerações de artistas, professores, intelectuais e gestores privados e públicos na área da economia da cultura, gestão cultural e políticas públicas.
Em sua trajetória, enquanto assumia e abandonava os cursos de Arquitetura e Artes Plásticas na Universidade Federal da Bahia, Marcio Meirelles teve sua estréia profissional como diretor de teatro, em 1976, com a peça Rapunzel, baseada no conto de fadas dos Irmãos Grimm, um espetáculo infantil com ambições estéticas e conteúdo que também interessavam aos adultos.
Esse espetáculo também marcou a estréia do Grupo de Teatro Avelãz & Avestruz, criado por ele e que contou, desde a sua formação, com novos talentos como Maria Eugenia Millet, Fernando Fulco e Hebe Alves, que, em poucos anos se tornariam alguns dos autores mais importantes do teatro baiano, influenciando as novas gerações, ou, como no caso de Hebe Alves, se tornando professora de Dicção da Escola de Teatro da UFBA, uma das maiores especialistas na área. "Era um teatro coletivo, era diferente do que acontecia na época no teatro da Bahia que ou era teatro amador, ou empresarial, ou produção da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), recorda Meirelles.
Catapultado pelo sucesso artístico com o grupo pelas suas apresentações na Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, entre outros estados, Meirelles foi convidado – e aceitou – ingressar no I Curso Livre de Teatro, do Teatro Castro Alves, onde desenvolveu nos três primeiros anos, trabalhos de cenário, figurino e programa (como designer) do espetáculo Apesar de tudo a terra se move, de Bertolt Brecht, seguindo de cenário, figurino e maquiagem de A terceira margem, adaptado de Guimarães Rosa; e cenário, figurino e cartaz (designer) de Ubu Rei – Efemérides Patafísicas, de Alfred Jarry, todos dirigidos por Paulo Dourado, além de Decamerão, baseado em Bocaccio, dirigido por Luiz Marfuz, onde ele fez a iluminação.
Em 1982, Meirelles funda A Fábrica, um espaço cultural e de formação com cursos de cenário, figurino, interpretação de atores, entre outros. Essa experiência lhe projeta para outros espaços, como a chefia dos núcleos de cenografia, figurino e direção de elenco da TV Educativa, que desenvolve nos anos de 1985 e 1986.
Paralelamente desenvolve o Projeto Teatro para a Fundação Gregório de Mattos, com o qual montou o espetáculo Gregório de Mattos de Guerras, sua primeira e profunda incursão na história e na identidade cultural da Bahia.
TCA
Em 1997 assumiu a direção do Teatro Castro Alves – onde ficaria até 1991. Sua próxima experiência foi a criação do Bando de Teatro Olodum, respaldado pelo bloco afro Olodum e pela necessidade que sentia de ações afirmativas da negritude baiana.
O grupo vai se projetar nacional e internacionalmente com as montagens Essa é Nossa Praia, Ó Pai Ó e de Bai Bai Pelô, dirigidas por Meirelles, e que encontra no mercado brasileiro de cinema e televisão sua ampliação para as grandes massas, ultrapassando os limites das artes cênicas baianas. A repercussão desses trabalhos deveu-se além do talento de seu diretor e atores; desde o início sempre esteve relacionado a uma expressão característica visível em cada produto: uma espontaneidade contagiante associada a uma consistência histórica e discurso ideológico muito sólido.
Atores Elane Nascimento e Jorge Washington no espetáculo Ó Paí, Ó!. Foto: João Meirelles.
Ao lado de Werner Herzog – um dos mais importantes cineastas alemães – Meirelles dirigiu o espetáculo Floresta Amazônica em Sonho de um Noite de Verão, adaptação de texto de Shakespeare, montada no Rio de Janeiro, por ocasião da ECO 92 – a maior reunião de países para discutirem soluções globais para questões climáticas da terra. Em 1995, escreveu – em parceria com Aninha Franco e Bando de Teatro Olodum – e criou cenário e figurino do espetáculo Zumbi, montado em Londres, pelo Black Theater Co-op, com elenco local.
Processo de formação
Meirelles escreveu dezenas de artigos em revistas acadêmicas e artísticas no Brasil e no exterior, assim como artigos e ensaios publicados em jornais de circulação nacional, proferiu palestras em dezenas de eventos acadêmicos e artísticos no Brasil e em diversos países.
Em paralelo, continuava seu próprio processo de formação, fazendo residência artística nos Estados Unidos (1983); Bolsa CAPES/Fullbright de aperfeiçoamento em Artes, com estágio na Circle repertory Company, em Nova York (1986), visita de intercâmbio na Alemanha, a convite do Instituto Goethe e da Casa das Culturas dos Mundos (Berlim), em 1990.
Também foi convidado para o programa Exploring Roots, do London International Festival of Theatre (LIFT); em 1993, deu palestra no evento Daily Dialogues – Black to Brazil e participou do Business Art Fórum, ambos no London Internacional Festival of Theatre (LIFT); em 1995, novamente palestra no Daily Dialogues e ministrou um workshop no Shared Values; além de coordenar o encerramento do festival com Carnaval, um desfile percussivo coreográfico, do London Internacional Festival of Theatre, em 1996.
Entre 1994 e 1999, assumiu a coordenação do Projeto Novo Vila, que incluiu a dinamização do histórico teatro Vila Velha, criado pelo Teatro dos Novos, em 1964. Sua experiência na área fez ressurgir um dos teatros mais produtivos do Brasil, servindo como usina de criação e palco de espetáculos de teatro, dança, música, performance, envolvendo artistas de variadas trupes, funcionando ainda com grupos residentes estáveis que participam do conselho gestor e da administração do reatro.
Entre 1999 e 2000, Meirelles foi coordenador do projeto de intercâmbio entre países lusófonos em Viagem ao centro do círculo, onde coordenou oficinas em Mindelo (Cabo Verde), Luanda (Angola), Coimbra (Portugal) e Salvador (Brasil).
Atividades atuais
Entre as atividades atuais, o artista baiano Meirelles desenvolve o projeto experimental da Universidade Livre do Teatro Vila Velha, coroando quase cinquenta anos de dedicação às artes e à cultura.
Os conselheiros do CONSUNI, em sessão extraordinário realizada no dia 07 de dezembro passado, aprovaram o parecer de concessão do título de Doutor Honoris Causa a Marcio Meirelles.
Com informações complementares do perfil de Meirelles veiculadas no site Gestão e Produção Cultural na Bahia.