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Entrevista Prof. Ms. Sérgio Guerra falando sobre o 2 de Julho e a Formação da Identidade Baiana

Publicado: Quinta, 08 Julho 2010 14:27

Propaae: -Qual a relação do 2 de JULHO com a Formação da Identidade Baiana?


S.G: O 2 de Julho é a data que marca o fim da guerra que se fez na então província da Bahia, pela expulsão das tropas portuguesas que ocuparam Salvador em nome das Cortes de Lisboa, que, a pretexto de transformar Portugal numa monarquia constitucional, almejavam retomar as rédeas de seu vasto império ultramarino, que estava sendo governado do Rio de janeiro, tornando o Brasil à condição colonial. Este fato ganhou força como elemento central da narrativa identitária baiana. O Professor João Reis diz que o 2 de Julho é um "mito fundador" da identidade baiana, cujos atributos são rememorados todos os anos, nos desfiles de caboclos e caboclas em Salvador e em diversas cidades do Estado.


Propaae: -Como se caracteriza o fato Político, Histórico e Social do 2 de JULHO?

S.G:O 2 de Julho, como fato, é a entrada do Exército Pacificador na cidade de Salvador, já abandonada pelas tropas portuguesas, que partiram pela madrugada em navios para Portugal. Esta entrada foi precedida por um cerco pelas tropas baianas que tornou as posições de brasileiros e portugueses praticamente a mesma durante pouco mais de um ano. Bira Castro diz que foi uma guerra "da fome contra a doença". Morreu-se mais disso do que das pelejas nos campos aos arredores da cidade. Já em 1824, ex-combatentes foram às ruas, relembrar, à revelia das autoridades, sua vitória um ano antes.


Propaae: -O que é Fato e o que representa a Festa?

S.G:A festa é uma reelaboração dos fatos. Reafirmam a participação popular na guerra da Bahia e se atualizam com as demandas atuais do povo baiano. O caboclo e a cabocla reforçam a idéia de protagonismo popular na vida política e social da Bahia.

Propaae: -Explique sobre a participação do Povo Baiano no 2 de JULHO.


S.G:Não se faz uma guerra da proporção desta sem uma maciça participação popular. Trabalhadores e trabalhadores pobres livres libertos e libertas, escravos e escravas, índios e índias, e outros setores populares sustentaram a guerra. Trabalharam no front, mas também na retaguarda, fizeram doações de víveres e outros gêneros. Mas isso não quer dizer que esquecessem as tensões de classe que a Bahia possuía. Rebelaram-se contra as autoridades civis e militares, manifestando seu anseio político por um Brasil e uma Bahia com mais igualdade, liberdade e justiça social. Hoje, como por todo o tempo desde o século XIX, a população volta às ruas nos desfiles de 2 de Julho, para protestar, para manifestar-se, mas também para reverenciar os dois símbolos da festa: a Cabocla e o Caboclo.


Propaae: -Porque o Hino do 2 de JULHO é o Hino Oficial da Bahia?

S.G:Isso decorre de uma decisão política do Governo do Estado. O Hino ao Dois de Julho era, de fato, muito mais conhecido e cantado do que o antigo hino, o qual, pra ser sincero, eu nem conhecia...

*Prof. Ms. Sérgio Armando Diniz Guerra Filho é professor da UFRB no Centro de Artes Humanidades e Letras

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