Novo pró-reitor quer fortalecer os laços comunitários por meio da extensão e da cultura
Danillo Barata, docente, pesquisador e artista, traz sua vasta experiência na arte e cultura para o reitorado da Profa Georgina Gonçalves. Barata desempenha papéis fundamentais na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia desde 2007, tendo fundado vários cursos de graduação e ocupado importantes funções na gestão da Universidade. Em 2023, o professor do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas assume o cargo de Pró-Reitor de Extensão e Cultura da UFRB, com o compromisso de aproximar a universidade dos territórios de identidade.
Na Proexc, as prioridades da nova gestão incluem avançar na curricularização da extensão e na implementação do plano de cultura da UFRB. Para Danillo Barata, é central ter a participação ativa da comunidade na Extensão Universitária, facilitando o compartilhamento de conhecimento e a colaboração para resolver desafios contemporâneos.
Conte um pouco sobre sua trajetória de infância e juventude. Como se decidiu pela atuação na arte e na cultura?
Convivi na minha infância com um certo nomadismo. Nasci no Monte Serrat, em Salvador, mas morei uma parte da minha infância em Santo Antônio de Jesus, Camaçari e na Ilha de Itaparica. Desde muito jovem fui influenciado por meu pai, José Mário Barata, pintor, autodidata, que desenvolvia uma produção árdua com seu cavalete e suas tintas a óleo. As conversas sobre arte tornavam-me cada vez mais interessado nos processos artísticos. Tenho, também, muito da minha mãe que nasceu e cresceu na zona rural de Santo Antônio de Jesus e que me moldou aos valores desse território. Acredito que esses dois universos, inicialmente antagônicos, formaram a base do que sou.
Ingressei em 1997 no curso de Licenciatura em desenho e plástica da Universidade Federal da Bahia. A Escola de Belas Artes tornou-se o ponto de referência para meus estudos como artista e educador, pois lá poderia desenvolver trabalhos que refletissem o papel do artista como um interlocutor na sociedade. A educação dava corpo, sensibilidade e estratégia nessa construção cultural e artística.
Entre 1998 e 2000 trabalhei no núcleo de cenografia do Teatro Castro Alves, sempre incorporando minhas práticas profissionais e as pesquisas desenvolvidas na Escola de Belas-Artes no processo cênico.
A partir do estudo da fotografia, no segundo ano de curso, tive um deslumbramento com a imagem. O professor Ailton Sampaio me sensibilizou no sentido de dar início à passagem da fotografia estática para a fotografia em movimento. Nascia, assim, o meu primeiro curta-metragem, Barbearia ideal, filmado em 16 mm.
Em 2000, na Diretoria de Imagem e Som da Fundação Cultural do Estado da Bahia, desenvolvi uma série de trabalhos em vídeo e o projeto Videoclipes de apoio aos novos talentos da música baiana. A articulação entre a imagem e o som, na perspectiva do videoclipe, tornava o trabalho muito interessante do ponto de vista de minha formação profissional.
Durante esse processo de investigação audiovisual, criei um grupo de estudos sobre poéticas visuais com colegas da Escola de Belas-Artes. Para fundamentar nossos encontros, frequentávamos as bibliotecas da Escola de Belas-Artes e da Facom (Faculdade de Comunicação); nossas leituras e “ensaios audiovisuais” ajudaram a desenvolver uma abordagem poética no processo audiovisual. No sexto semestre do curso, fui convidado pelo diretor do ICBA (Instituto Cultural Brasil-Alemanha/Instituto Goethe) a participar da coletiva Terrenos, com artistas que tinham em comum uma identidade de linguagem, fortes características criativas e de contemporaneidade.
Os trabalhos artísticos que tenho desenvolvido têm se constituído pela poética do corpo, utilizando como linguagens o vídeo e as videoinstalações. Motivado por essa tendência, busco a ampliação desse conceito e dos meios artísticos de expressão na realização de uma produção na linha de processos criativos no mestrado e depois no doutorado.
De que forma seus caminhos se cruzaram com o da UFRB?
Essa encruzilhada se deu de forma bastante natural, pois vivi uma parte da minha vida morando no Recôncavo e sempre me vi aqui nessa "casa-lugar". Na época da criação da UFRB achava, e hoje tenho convicção, que um projeto novo de universidade poderia trazer um certo frescor para os currículos universitários.
Fiz o primeiro concurso da UFRB em 2006 e ingressei nessa instituição em 2007. Voltar ao interior ampliava minha experiência e me transformava profundamente, pois aqui a troca de saberes e a horizontalidade na prática de formação são vividas cotidianamente no ambiente escolar e fora dele. Um espaço de dialogias, transformações e do mistério.
A relação de mutualidade estabelecida com o Recôncavo talvez encontre ressonância na frase da canção do santamarense Roberto Mendes e de Capinam na canção Massemba: “Vou aprender a ler para ensinar meus camaradas”. Acredito que, no fim das contas, tenho sido, muito mais ao modo de Mário de Andrade, um aprendiz.
Quais serão os desafios na função de Pró-Reitor?
Um dos desafios do reitorado da Profa Georgina Gonçalves e da minha participação nesse projeto é ampliar a relação entre a universidade e outros segmentos da sociedade, alinhando as atividades de ensino e pesquisa com as demandas e necessidades da comunidade. Há um desejo nosso de aproximar a participação da comunidade na elaboração, execução e avaliação dos projetos de Extensão Universitária, garantindo a troca de conhecimentos e a construção conjunta de soluções para as problemáticas sociais.
Uma outra dimensão diz respeito à implementação do Plano de Cultura da UFRB. Esse plano é um espaço aberto à pluralidade cultural e busca promover a integração entre as diversas linguagens artísticas, bem como valorizar os saberes tradicionais e a diversidade cultural.
Dessa forma, a UFRB prestará especial atenção à inclusão social e as políticas de permanência, visando a universalização do acesso ao conhecimento produzido e oferecido pela universidade, promovendo a participação de grupos historicamente excluídos do acesso à educação superior.
Quais serão as prioridades para a gestão da PROEXC?
Implementar a curricularização da extensão em todos os cursos de graduação e a inserção dos mestres e mestras da cultura popular nas atividades de ensino nos diversos centros da UFRB. Estimular a realização de projetos de Extensão Universitária interdisciplinares, visando a integração entre as diversas áreas do conhecimento e o desenvolvimento de soluções multidisciplinares para os problemas locais e regionais.
Para tanto, a nossa ação se baseia em quatro pilares fundamentais:
1. Fomento à diversidade cultural 2. Ações afirmativas 3. Integração com a comunidade 4. Internacionalização.
Como fortalecer a extensão e a cultura a partir dos centros de ensino?
Acredito que tenhamos que valorizar as expressões culturais locais de cada uma das cidades onde está presente. É fundamental promover atividades que valorizem e fortaleçam a cultura local, como festivais, rodas de conversa, exposições, apresentações musicais, teatrais e de dança.
Criar espaços que estimulem a produção cultural. Pode parecer utópico, mas a criação de programas de residência artística, assistência técnica e cursos de formação para fomentar a produção artística e cultural na região podem ser elementos importantes de pertencimento à nossa comunidade.
Qual a importância e os benefícios da curricularização da extensão na UFRB?
A nossa política de extensão e a sua curricularização deve ser um mecanismo capaz de promover a articulação entre universidade e comunidade, criando oportunidades de participação e interação entre esses importantes atores. Além disso, deve ter como objetivo a promoção do desenvolvimento local e regional, por meio do fortalecimento das relações entre a universidade e as demandas sociais e econômicas do Recôncavo, vale do Jiquiriçá e Portal do Sertão.
Dessa forma, a nossa universidade responde a uma demanda do Plano Nacional de Educação permitindo com isso atender as suas premissas: de uma formação cidadã e da incorporação das questões complexas contemporâneas presentes no contexto social.
Trajetória profissional de Danillo Barata
Danillo Barata é docente, pesquisador, artista e curador, com atuação internacional nas áreas da arte e mídia. Também atua no campo das culturas digitais e na governança universitária. Possui Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo (2012), Mestrado em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia (2003) e Licenciatura em Desenho e Plástica pela mesma instituição (2001). Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia desde 2007, fundou os cursos de Cinema e Audiovisual, Artes Visuais, Bacharelado Interdisciplinar em Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas BICULT, Licenciatura Interdisciplinar em Artes e do Curso superior Tecnológico em Mídias Digitais. Implantou os cursos de Licenciatura em Música Popular Brasileira e os cursos superiores tecnológicos em Política e Gestão da Cultura, Artes do Espetáculo e Produção Musical. Dirigiu o Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas entre 2013 e 2023, foi assessor da Reitoria em 2012 e 2013, e coordenou o colegiado do curso de Cinema entre 2008 e 2010. No campo da gestão da extensão universitária, presidiu a Câmara de Extensão da UFRB entre 2008 e 2010, e atuou como chefe do Núcleo de Comunicação da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura em 2008. É membro do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior INEP-MEC, da Câmara de Assessoramento - Linguagens e Artes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB e da Comissão Gerenciadora do Programa Estadual de Incentivo ao Patrocínio Cultural - FAZCULTURA/ SECULT-BA.
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