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Pesquisadoras da UFRB divulgam livro eletrônico 'O que a COVID-19 nos ensina?!' 

27/04/23 13:43 , 27/04/23 13:43 | 1418
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O livro eletrônico 'O que a COVID-19 nos ensina?: estudos biopsicossociais' (Rio de Janeiro, RJ: Autografia, 2023), organizado pelas professoras e pesquisadoras Ana Lucia Barreto da Fonseca (UFRB), Dalila Castelliano de Vasconcelos (UFCG) e Lucivanda Cavalcante Borges de Sousa (UNIVASF), discute temas, entre eles, desenvolvimento-aprendizagem, parentalidade, cognição, atuação do psicólogo; e processos de saúde e doença ocorridos durante a pandemia de COVID-19. 

A COVID-19 teve impacto negativo nas áreas de saúde pública, economia, cultura, educação e assistência social, no mundo. O Brasil registrou milhões de casos e mais de 699 mil mortes oficiais, ficando entre os países com maior número de perdas de vidas humanas, pela doença. Além disso, a pandemia teve e tem afetado a vida social e mental das pessoas, notadamente das classes sociais menos favorecidas economicamente.  

O isolamento social prolongado, as desigualdades sociais e regionais, especialmente em áreas mais remotas e em comunidades de baixa renda, e as restrições de contato físico entre familiares, amigos e a sociedade levaram ao aumento de problemas de saúde mental - como ansiedade e depressão - e déficit e atraso no aprendizado dos estudantes. 

Pesquisa recente publicada pela revista The Lancet Psychiatry a partir de uma amostra de 236 mil sobreviventes, registra que 1 a cada 3 pessoas recebeu diagnóstico de distúrbios neurológicos ou psiquiátricos, indicando que as doenças cerebrais e os transtornos psiquiátricos são mais comuns após infecção por COVID-19, do que após uma gripe ou outras infecções respiratórias, e se tornam mais graves e frequentes entre pacientes que enfrentaram as formas graves da doença. O país continua enfrentando um longo caminho para lidar com as consequências da pandemia e se recuperar totalmente dela. 

O livro digital, ora lançado, reflete sobre o que ficou de ensinamento sobre as consequências da doença.  Dividido em duas partes, Desenvolvimento humano e aprendizagem na pandemia da Covid-19; e Saúde mental durante a pandemia da Covid-19: análise a partir de diferentes contextos, as/os pesquisadoras/es buscaram entender, apropriar e descrever os fenômenos que permearam o cotidiano das pessoas durante o período da pandemia do novo coronavírus.  

O trio de pesquisadoras Ana Fonseca, Dalila Vasconcelos e Lucivanda Sousa, organizou um resumo de estudos, divididos em treze capítulos, envolvendo pesquisas empíricas, relatos de experiências e revisão de literatura.  

O e-book teve a contribuição de 44 pesquisadoras/es nacionais, notadamente do Núcleo de Comportamento, Desenvolvimento e Cultura (NCDC/UFRB), do Laboratório de Estudos em Desenvolvimento Infantil e Processos Psicossociais (LEDIPPSI/UNIVASF) e da pós-graduação da Universidade Federal de Campina Grande, em parceria com pesquisadores de outras instituições, dentre elas, UFPB, UFC, Unifesspa e UnB.  

A produção científica de pesquisadoras ligadas a UFRB corresponde aos capítulos 2, 4, 5, 10, 11 e 12 do livro digital. No capítulo 2, “A parentalidade na relação com adolescentes durante a pandemia de Covid-19", as pesquisadoras Lucivanda Cavalcante Borges de Sousa, Ana Lúcia Barreto da Fonseca, Marília Fonseca da Silva, Iasmim Oliveira Nascimento e Marya Klara Rodrigues Constantino descreveram parte das alterações na dinâmica familiar devido os impactos da pandemia, notadamente, na parentalidade com filhos adolescentes no contexto brasileiro. 

Pela amostra levantada, os dados remontam às práticas parentais tradicionais, em que as mulheres/mães são os sujeitos implicados mais diretamente no exercício da parentalidade. “Esse fator tem acentuado o adoecimento físico e mental no gênero feminino e, devido à pandemia, tornou-se mais efetivo”.  Outro aspecto levantado pelo estudo está diretamente vinculado às práticas parentais indutivas e coercitivas, que denunciam as distâncias socioeconômicas e educacionais dos participantes e podem apontar a perspectiva de que estados estressores aumentam as chances de práticas coercitivas dirigidas às crianças e aos adolescentes.  

As pesquisadoras Victoria Giulia Soares Locce da Silva, Ivana Karolina Sousa Santos, Juliana Gonçalves Dias, Marla Niag dos Santos Rocha, Sibele de Oliveira Tozetto e Ana Lucia Barreto da Fonseca produziram o quarto capítulo, “Uso de lives no Instagram como recurso para promoção do aleitamento materno: um relato de experiência”. 

O capítulo é um relato de experiências de campanhas de conscientização para incentivo à amamentação durante o “Agosto Dourado”, realizada em 2021, utilizando a rede social como plataforma de comunicação.  As atividades online foram propostas pela Liga Acadêmica de Ginecologia e Obstetrícia do Recôncavo da Bahia (LAGORB), considerando que o aleitamento materno se insere na relação materno-infantil como “importante processo de interação e construção de vínculo, contribuindo para a formação dos aspectos psicoemocionais da criança”.  

As três transmissões online pela conta LAGORB no Instagram, destacaram: “Aleitamento materno: aspectos gerais e a importância do colostro”; “Introdução alimentar e amamentação como aliadas” e “Fatores emocionais relacionados ao aleitamento materno”. As lives, com uma hora de duração, em média, aproximaram os internautas de lugares distintos do País e de diferentes perfis, para entender a importância da prática e do incentivo ao aleitamento materno. As lives abriram espaço para reflexões, dúvidas e outras questões para a participação das pessoas presentes virtualmente.  As dúvidas presentes em meio à população despertam inseguranças sobre a importância fisiológica, psicoemocional e nutricional da amamentação, impactando negativamente sobre sua prática.   

O capítulo 5, Percepção das gestantes sobre saúde bucal: um estudo descritivo, produzido pelas pesquisadoras Ana Patrícia S. Araújo (UEFS), Amanda Oliveira Lyrio (UNB),  Ana Lucia Barreto da Fonseca (UFRB), Ana Claudia M. Godoy Figueiredo (UFRB), Drielly Andrade (UFRB) e Simone Seixas da Cruz (UFRB); e o pesquisador Adan Araújo Marques (UFRB), buscou ampliar o conhecimento sobre a autopercepção, no dimensionamento da saúde bucal em gestantes, e os que discutem a sua relação com planejamento de políticas públicas como usuárias de Unidades de Saúde da Família, no município de Juazeiro (BA). 

A pesquisa ressalta “diversos aspectos da autopercepção de saúde bucal, que, para além de refletir a experiência subjetiva das gestantes, funcional e psicologicamente, está relacionada com questões sociais e étnico/culturais, assim como de acesso aos serviços odontológicos”. 

O trabalho destaca-se por poder contribuir para o empoderamento das mulheres, na medida em que investiga, discute e dá visibilidade a um tema ainda pouco estudado, especialmente em saúde bucal. 

Na segunda parte do e-book, no capítulo 10 “Reflexões sobre as relações interpessoais online em período de pandemia da COVID-19", escrito pela professora e pesquisadora da UFRB, Ana Lucia Barreto da Fonseca, em parceria com a professora Maria do Socorro Sales Mariano (Unifesspa) e o estudante de graduação Gabriel Barbosa Sardinha, do curso de Psicologia (Unifesspa) buscou entender e discutir os usos das ferramentas cibernéticas, por longo tempo, e em muitas e variadas circunstâncias, devido ao processo de distanciamento social exigido pelas orientações sanitárias para o controle da proliferação da COVID-19. 

“Não podemos deixar de fora que as experiências na rede são muito particulares, resultando de como o indivíduo lida com esse mundo e das ferramentas que têm disponíveis”, descrevem os autores. Para os autores, as mudanças tecnológicas não são simplesmente adicionais ou complementares, vieram para ficar. 

 O capítulo 11, “Pandemia da COVID-19 e as mulheres mais velhas: trabalho de reprodução social e eventos estressantes” foi escrito conjuntamente pelas professoras da UFRB, Dóris Firmino Rabelo e Rocha Simone Seixas da Cruz, em parceria com a pesquisadora Dóris Firmino Rabelo (UFC) e demonstra que as trajetórias de vida de mulheres foram mais afetadas durante o período da pandemia, de maneira que já acumulava-se evidências empíricas suficientes indicando que a sobrecarga, o desemprego e a violência recaíram principalmente sobre elas, agravando a situação. 

Participaram da pesquisa 535 mulheres, com idade média de 53 anos, sendo 74,3% na meia idade e 25,7% na velhice, a maioria negra (53,1%). Os dados coletados com a aplicação de formulário online, de forma individual e voluntária, apontaram que a maioria (74,8%) considerou que o número de horas gastas em atividades de reprodução social aumentou na pandemia e 42,2% das mulheres disseram ter vivenciado algum evento estressante causado pela pandemia. 

O estudo indicou que as mulheres na meia idade, as que não trabalhavam e as negras/indígenas foram as que mais relataram aumento no número de horas gastas em atividades de reprodução social durante a pandemia. As mulheres na meia idade, as que trabalhavam e as que não eram heterossexuais relataram mais eventos estressantes causados pela pandemia.  

Os resultados indicaram como riscos e consequências são sentidos de forma desproporcional por determinados grupos, principalmente aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade e aqueles que sofrem discriminação social. Este cenário complexo é agravado pela situação particular do Brasil, um país com enormes desigualdades sociais.  

Essa assimetria se manifesta nas condições de trabalho e renda, na saúde e na qualidade de vida de mulheres. “O gênero é conhecido por ser um determinante social importante da saúde, porém, é preciso compreender melhor as consequências da pandemia entre as mulheres mais velhas cujas demandas e experiências ainda ficam invisíveis em muitos dos estudos”. Para as pesquisadoras, é vital que as respostas à pandemia da COVID-19 considerem as realidades cotidianas de diferentes grupos numa perspectiva de gênero, geração e raça. 

O estudo publicado é parte de uma pesquisa mais ampla, denominada “O envelhecimento e a velhice de mulheres: eventos de vida, saúde mental, intergeracionalidade e o trabalho de reprodução social”, desenvolvida com recursos públicos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

O capítulo 12, “Implicações cognitivas da COVID-19: Especificidades do comprometimento de memória”, as pesquisadoras da UFRB, Kelly Cristina Atalaia da Silva, Francine Teixeira de Sena e Luana Carvalho Borges é uma revisão de literatura. Cinco artigos desta revisão de literatura evidenciam que o SARSCoV-2 desencadeia prejuízos mnêmicos. A memória de trabalho e verbal foram os principais subtipos afetados pelo SARS-CoV-2.  

Os instrumentos de rastreio cognitivo, avaliação neuropsicológica e exames de neuroimagem evidenciaram o comprometimento cognitivo decorrente da patologia COVID-19.  

No artigo, ressalta-se que a realização de estudos longitudinais e estruturados, na perspectiva do uso de testes normatizados e padronizados, se fazem necessários para ampliar a compreensão epidemiológica, a prevalência e a incidência sobre os efeitos do vírus na memória de forma mais específica. Por fim, as autoras afirmam que essa revisão se refere a uma análise inicial sobre o comprometimento da memória associada ao SARS-CoV-2.  

“Dados mais robustos se fazem necessários para compreender melhor alguns desfechos, tais como: quais sintomas neurológicos estão associados ao comprometimento das memórias de trabalho e visual tardia?; por que houve a prevalência da inclusão do gênero masculino nas pesquisas?; e, por que ser do gênero feminino é um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas neurológicos decorrentes da COVID-19?. 

“Assim, sugere-se que as pesquisas futuras possam analisar e responder essas questões que são fundamentais para o cuidado em saúde mais qualificado e embasado na Prática Baseada em Evidências (PBE)”, escreveram. 

O e-book gratuito é destinado a pesquisadores, estudante de graduação e de pós-graduação na área de saúde e para pessoas interessadas em temas contemporâneos.

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