Palestra - Atujuwa: objetos perigosos em coleções de museus. Ou do museu como zona de contato cosmopolítico
Palestra - Atujuwa: objetos perigosos em coleções de museus. Ou do museu como zona de contato cosmopolítico
Aristóteles Barcelos Neto
19 de agosto de 2014, às 10:00
Auditório da Fundação Hansen Bahia - CAHL-UFRB
R. 13 de maio, n. 13, Centro, Cachoeira-BA
Mediação: Jurema Machado - UFRB
Em três diferentes ocasiões, julho de 1997, julho de 2000 e março de 2005, os índios Wauja do Alto Xingu, Mato Grosso, produziram rituais de máscaras de atujuwa, as quais foram vendidas para um colecionador desconhecido (1997) e para o Museu Nacional de Etnologia de Portugal (2000) e o Museu do quai Branly de Paris (2005). A máscara atujuwa permite dar corpo a uma série de espíritos xâmanico-patogênicos do cosmos wauja. Considerado o mais perigoso de todos os corpos-máscaras (apapaatai onai) devido ao seu imenso poder letal, os Wauja realizam o ritual de atujuwa com muitíssima cautela e apenas quando os altos custos do ritual podem ser corretamente cobertos. Com a possibilidade de venda das máscaras para colecionadores e museus, atujuwa foi inserido em uma nova zona de contato cosmopolítico, no qual o controle da natureza patogênica das máscaras passa a ser de reponsabilidade dos sujeitos que as adquiriram. Esse paper aborda os sentidos simbólicos e os potencias curatoriais que emergem desses contatos, em especial em relação aos possíveis modos de visualização do perspectivismo e multinaturalismo ameríndio.
Aristoteles Barcelos Neto
Professor e coordenador de pós-graduação na Sainsbury Research Unit for the Arts of Africa, Oceania and the Americas (University of East Anglia, Reino Unido), membro do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia e do Centro de Estudos Mesoamericanos e Andinos, ambos da Universidade de São Paulo, e do International Council of Museums. Realizou pós-doutorado no Laboratoire d'Anthropologie Sociale (Collège de France) e no Departamento de Antropologia da USP. Recebeu o Prêmio CNPq-ANPOCS de Melhor Tese de Doutorado em Ciências Sociais. Concebeu e coordenou projetos de coleções etnográficas para museus no Brasil, Portugal, Alemanha e França. Produziu e dirigiu filmes etnográficos, dentre eles a Trilogia Ancashina, os quais foram assistidos em mais de 120 países e exibidos em festivais nas Américas do Sul e do Norte e na Europa. É autor de A arte dos sonhos: uma iconografia ameríndia (Lisboa: Assírio & Alvim, 2002), Visiting the Wauja Indians: Masks and Other Living Objects from an Amazonian Collection (Lisboa: Museu Nacional de Etnologia, 2004) e Apapaatai: rituais de máscaras no Alto Xingu (São Paulo: Edusp, 2008).